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Ter de debruçar sobre a seca em
Cabo Verde causa um calafrio ao
pé da barriga para este povo que ganha o pão à custa de um bom ano agrícola,
incluindo nesta estimativa cerca de 17.200 pessoas, sendo cerca de 62% das
famílias vivem no mundo rural. Estas são as que mais se sentem afetadas pelo
mau ano agrícola.
O arquipélago enfrenta um dos
piores anos em termos da seca, já que a situação agrícola se mostra precária. A
maior parte da população, em Cabo Verde, principalmente a da ilha de Santiago, garante
a sua sustentabilidade e o seu rendimento familiar com o recurso à prática da
agricultura.
A demora da chuva acabou por “matar”
o que nasceu daquilo que os agricultores semearam, mais concretamente no início
de Julho. A espera incansável para que a chuva pudesse ainda vir dar as “boas
vindas” e um sorriso na cara ao povo que tanto, por ela, clama, nada mais, nada
menos, acabou por ser o desejo do passado para alguns camponeses, que dizem ser
tarde para se reverter os mais do que indícios da má produção agrícola deste ano.
“Aquilo que já está feito não há tempo para mudar”, desabafa Dona Maria, uma
sexagenária que criou os filhos à base do trabalho do campo.
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Por seu lado, há quem justifique
esta fatalidade como uma sanção divina: “é um castigo do Pai, aquele que é o
rei,” diz Juvelino Lopes, agricultor e chefe de família. O mesmo argumenta dizendo
que o apocalipse está à porta. “O homem anda a tirar vidas de quem não o pôs, há
pais a abusarem sexualmente dos filhos, irmãos desconhecem-se um ao outro, já
não se quer trabalhar e roubar ou assaltar os outros tornou-se moda. Estamos a
pagar por aquilo que andamos a fazer”, justifica.
Esta situação tornou-se a pauta
do dia para o povo, que anda preocupado com as consequências graves deste
grande flagelo. Tudo isso mexe directamente com a economia do país, onde o PIB
desce consideravelmente, numa altura em que os rácios da dívida soberana levam
o país à categoria de “lixo” na classificação das agências de mutação
financeira.
Não há comida para os animais e o
pouco que se obteve do ano agrícola chega ao mercado num preço altíssimo, pois,
quando há escassez, a procura se eleva. Os pastores vão ter que vender os
animais a um preço baixo, para não os ver a passar fome e acabar por
enfraquecer.
Consequências: a oferta e a procura
Dona Maria realça o seu medo e a angústia
que sente por uma perda enorme. Diz que o salário mínimo no nosso país não
cobre, nem de perto e nem de longe, o custo mínimo de vida. “Nha fidjo cau mau
torna brabu, flan und N ta bai, nes país mufino”, desabafa a sexagenária com um
olhar triste.
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Para Fatinha, uma das antigas
vendedeiras do famoso “Pilorinhu” de Assomada, este é o pior ano agrícola que
já presenciou. Acrescenta ainda que não andam a vender muito porque os
consumidores reclamam do preço. Por isso, há dias que regressam à casa sem o
seu ganha-pão.
Governo: Medidas de combate
À seca, o governo reagiu de
imediato com um plano de emergência, disponibilizando 7 milhões de euros para
mitigar os efeitos da seca e do mau ano agrícola, anunciou o ministro da
Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva.
O governante frisa ainda que estão a
prever mais de 7 milhões, mas ainda a montagem financeira encontra-se na fase inicial.
“Temos um planeamento macro que posteriormente vamos avançar para um
planeamento operacional bastante territorializado. O financiamento do plano
deverá ser mobilizado entre os habituais parceiros internacionais de
desenvolvimento, de entre as quais UE, Banco Mundial, Nações Unidas, o apoio
técnico da FAO, disse Gilberto Silva.
Para um diagnóstico mais
apropriado da real situação do país no ramo da agricultura, o ministro
privilegiou a visita “in loco” para os vários concelhos do interior da ilha de
Santiago, acompanhado do representante do Fundo das Nações Unidas para a Agricultura
e a Alimentação, Rémi Nono, com o intuito de avaliar o “estado de arte” do ano agrícola.