quinta-feira, 20 de abril de 2017

Poial o encanto e a varanda de Assomada



Foto de Evelise Carvalho

A diversidade cultural conjugada ao famoso espírito de morabeza, sempre foi um dos atrativos principais do cartão de vesita de Cabo verde. Estas pequenas ilhas são conhecidas lá fora, maioritariamente, pela sua forte manifestação cultural, desde a música à gastronomia. O espírito acolhedor do povo das ilhas há muito é manifesto na forma como convive e recebe os de fora. Não é por acaso que em tempos familiares e vizinhos reuniam-se no poial de suas casas para contar estórias, contar vivencia, falar da vida alheia ou ainda para apreciar um bom batuque num “tereru finkado”.


É na tentativa de preservar esta diversidade ou a essência desta ideia que, Sílvio Brito criou, em Assomada, o espaço Poial. Uma churrascaria onde mora a cultura cabo-verdiana. O espaço foi criado há pouco tempo. Com apenas dois meses de funcionamento, já é bastante conhecido e frequentado. Segundo Sílvio Brito, a iniciativa surgiu da necessidade de se ter um lugar para se conversar cultura e fazer-se música e onde as pessoas podiam expressar-se. “Foi uma necessidade espiritual”, diz Sílvio.

Quem entra no poial não se sente em outro sítio que não seja Cabo Verde. Do lado esquerdo á entrada fica o palco, ornamentado á cabo-verdiana, com assentos de tronco de acácia, instrumentos musicais e microfones assentes em esferovite, revestido com lona preta e ao fundo “poial” escrito a caris num fundo de paletes de ovos pichados a preto, onde desfila música ao vivo aos fins-de-semana.

 Mas, a primeira panorâmica que os olhos contemplam, são as pinturas na parede. Ao fundo, um homem tocando búzio, lembrando o melódico som do mar que abraça as ilhas, ao seu lado, mais uma representação musical, desta feita braços de uma guitarra ilustrado em tons verde, vermelho e amarelo. Mais ao fundo, junto ao fogareiro, destaca-se um retrato típico da ilha de Santigo, uma mulata vestida a rigor - saia preta, blusa branca, lenço á cabeça, pano de terra á coxa- dançando batuque, quiçá, no compasso do famoso “txabeta”. 
Do lado direito do palco, um quadro, mesclando instrumentos musicais e mistérios, num estilo abstrato e místico, pintado por Celestino, chama atenção pela mistura de cores azul, rosa, vermelho, branco e preto quebranto um pouco o ar rústico do lugar. O local é iluminado por 4 lâmpadas, duas delas adornadas com cestas feitas de “caris”. Nas arestas da sala é visível a presença de peças de cerâmica, dando ao ambiente um ar peculiar.
Três degraus levam o visitante ao bar, cuja plataforma é ligeiramente mais baixa do que a elevação do palco, dando mesmo a impressão de ser um poial, onde a freguesia acomoda-se apreciando aperitivos e drinks ao gosto do freguês. Atrás do balção uma estante com a figura de uma casinha de telha traz a montra garrafas de bebidas, destacando-se porem a verdinha, bebida típica da casa feito de grogue, erva-doce, limão, alecrim e hortelã.

“Em comparação como o Sal, isto é mesmo Cabo Verde”

 Convívio entre portugueses
Poial não é apenas um espaço de aconchego para os moradores da Assomada, mas também para quem chega, principalmente para os estrangeiros e turistas. Exemplo disso é Dino, um português que está em cabo Verde a trabalho e que é frequentador assíduo desse espaço. “Vim cá parar porque ouvi dizer que cá tem-se música ao vivo, vim espreitar e achei isso muito engraçado, muito giro e muito dinâmico”, conta Dino. 

O mesmo elogia a espontaneidade e diversidade que o espaço e a cultura cabo-verdiana oferecem e que em Portugal não há. Já que, segundo explica, “lá qualquer espetáculo deve ser muito bem planejado, organizado e preparado com muitas regras.”

A ilha do sal é uma das mais turísticas do arquipélago, no entanto, Dino diz que “no sal há muitos espaços que se adaptam ao gosto dos turistas, em contrapartida, isto aqui é muito puro, muito virgem.” E com um sorriso de triunfo e orgulho desabafa que, “em comparação com o sal, isto é mesmo cabo verde”.

Alguém que igualmente costuma frequentar este espaço é Hugo Pedro, também português. Ele diz: “Eu em Lisboa costumo ir a muitos espaços com músicas cabo-verdianas e pensava que este espaço podia ser mais próximo daquilo que costumo visitar”. No entanto, o supracitado acrescenta: “mesmo assim acho que sinto-me mais em cabo Verde em Lisboa do que aqui”. Justificando sua afirmação Hugo diz que neste espaço não há muita gente a participar e se calhar não se cria muita dinâmica. Apesar disso, garante gostar do espaço que segundo confessa é o mais acolhedor que encontrou em Assomada.A mesma opinião tem também Adilson, mais conhecido por Zeca, filho de Assomada e frequentador nato do espaço.

Zeca enaltece em sua forma de falar, o espaço que julga ser o melhor em Assomada no quesito preservação cultural, aconchego e bom ambiente. Elogia o facto de se poder contemplar boa música ao vivo e tira o chapéu ao fato de este ser um estabelecimento preocupado com a cultura e a tradição Cabo-Verdiana. Lançando porém, um olhar mais severo e critico sobre o lugar, Zeca aponta o dedo para a qualidade de atendimento. “Acho que os funcionários deviam falar e interagir mais com as pessoas, sinto que falta um pouco mais de relação humana entre o atendedor e o cliente”, desabafa. Zeca chama atenção também à não aposta em pratos tradicionais e sugere peixe como uma nova proposta para pratos do dia e ou aperitivo mais frequente.

Sobre apostar em pratos tradicionais, Silvo Brito, dono do estabelecimento, nada diz mas, garante que tem em mente planos para o Poial. Nomeadamente exposições artísticas e gastronómicas, a fim de dar ao espaço o verdadeiro sentido de um “poial à cabo-verdiana.




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