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Foto de Evelise Carvalho |
A diversidade cultural conjugada ao famoso espírito de morabeza, sempre foi um
dos atrativos principais do cartão de vesita de Cabo verde. Estas pequenas
ilhas são conhecidas lá fora, maioritariamente, pela sua forte manifestação
cultural, desde a música à gastronomia. O espírito acolhedor do povo das ilhas
há muito é manifesto na forma como convive e recebe os de fora. Não é por acaso
que em tempos familiares e vizinhos reuniam-se no poial de suas casas para
contar estórias, contar vivencia, falar da vida alheia ou ainda para apreciar
um bom batuque num “tereru finkado”.
É
na tentativa de preservar esta diversidade ou a essência desta ideia que,
Sílvio Brito criou, em Assomada, o espaço Poial. Uma churrascaria onde mora a
cultura cabo-verdiana. O espaço foi criado há pouco tempo. Com apenas dois
meses de funcionamento, já é bastante conhecido e frequentado. Segundo Sílvio
Brito, a iniciativa surgiu da necessidade de se ter um lugar para se conversar
cultura e fazer-se música e onde as pessoas podiam expressar-se. “Foi uma
necessidade espiritual”, diz Sílvio.
Quem
entra no poial não se sente em outro sítio que não seja Cabo Verde. Do lado
esquerdo á entrada fica o palco, ornamentado á cabo-verdiana, com assentos de
tronco de acácia, instrumentos musicais e microfones assentes em esferovite,
revestido com lona preta e ao fundo “poial” escrito a caris num fundo de
paletes de ovos pichados a preto, onde desfila música ao vivo aos fins-de-semana.
Mas, a primeira panorâmica que os olhos
contemplam, são as pinturas na parede. Ao fundo, um homem tocando búzio,
lembrando o melódico som do mar que abraça as ilhas, ao seu lado, mais uma
representação musical, desta feita braços de uma guitarra ilustrado em tons
verde, vermelho e amarelo. Mais ao fundo, junto ao fogareiro, destaca-se um
retrato típico da ilha de Santigo, uma mulata vestida a rigor - saia preta,
blusa branca, lenço á cabeça, pano de terra á coxa- dançando batuque, quiçá, no
compasso do famoso “txabeta”.
Do lado direito do palco, um quadro, mesclando instrumentos
musicais e mistérios, num estilo abstrato e místico, pintado por Celestino,
chama atenção pela mistura de cores azul, rosa, vermelho, branco e preto
quebranto um pouco o ar rústico do lugar. O local é iluminado por 4 lâmpadas,
duas delas adornadas com cestas feitas de “caris”. Nas arestas da sala é
visível a presença de peças de cerâmica, dando ao ambiente um ar peculiar.
Três
degraus levam o visitante ao bar, cuja plataforma é ligeiramente mais baixa do
que a elevação do palco, dando mesmo a impressão de ser um poial, onde a
freguesia acomoda-se apreciando aperitivos e drinks ao gosto do freguês. Atrás
do balção uma estante com a figura de uma casinha de telha traz a montra
garrafas de bebidas, destacando-se porem a verdinha, bebida típica da casa
feito de grogue, erva-doce, limão, alecrim e hortelã.
“Em comparação como o Sal, isto é
mesmo Cabo Verde”
Poial
não é apenas um espaço de aconchego para os moradores da Assomada, mas também
para quem chega, principalmente para os estrangeiros e turistas. Exemplo disso
é Dino, um português que está em cabo Verde a trabalho e que é frequentador
assíduo desse espaço. “Vim cá parar porque ouvi dizer que cá tem-se música ao
vivo, vim espreitar e achei isso muito engraçado, muito giro e muito dinâmico”,
conta Dino.
O mesmo elogia a espontaneidade e diversidade que o espaço e a cultura cabo-verdiana oferecem e que em Portugal não há. Já que, segundo explica, “lá qualquer espetáculo deve ser muito bem planejado, organizado e preparado com muitas regras.”
O mesmo elogia a espontaneidade e diversidade que o espaço e a cultura cabo-verdiana oferecem e que em Portugal não há. Já que, segundo explica, “lá qualquer espetáculo deve ser muito bem planejado, organizado e preparado com muitas regras.”
A
ilha do sal é uma das mais turísticas do arquipélago, no entanto, Dino diz que
“no sal há muitos espaços que se adaptam ao gosto dos turistas, em contrapartida,
isto aqui é muito puro, muito virgem.” E com um sorriso de triunfo e orgulho
desabafa que, “em comparação com o sal, isto é mesmo cabo verde”.
Alguém
que igualmente costuma frequentar este espaço é Hugo Pedro, também português.
Ele diz: “Eu em Lisboa costumo ir a muitos espaços com músicas cabo-verdianas e
pensava que este espaço podia ser mais próximo daquilo que costumo visitar”. No
entanto, o supracitado acrescenta: “mesmo assim acho que sinto-me mais em cabo
Verde em Lisboa do que aqui”. Justificando sua afirmação Hugo diz que neste
espaço não há muita gente a participar e se calhar não se cria muita dinâmica.
Apesar disso, garante gostar do espaço que segundo confessa é o mais acolhedor
que encontrou em Assomada.A
mesma opinião tem também Adilson, mais conhecido por Zeca, filho de Assomada e
frequentador nato do espaço.
Zeca
enaltece em sua forma de falar, o espaço que julga ser o melhor em Assomada no
quesito preservação cultural, aconchego e bom ambiente. Elogia o facto de se
poder contemplar boa música ao vivo e tira o chapéu ao fato de este ser um
estabelecimento preocupado com a cultura e a tradição Cabo-Verdiana. Lançando
porém, um olhar mais severo e critico sobre o lugar, Zeca aponta o dedo para a
qualidade de atendimento. “Acho que os funcionários deviam falar e interagir
mais com as pessoas, sinto que falta um pouco mais de relação humana entre o
atendedor e o cliente”, desabafa. Zeca chama atenção também à não aposta em
pratos tradicionais e sugere peixe como uma nova proposta para pratos do dia e
ou aperitivo mais frequente.
Sobre
apostar em pratos tradicionais, Silvo Brito, dono do estabelecimento, nada diz
mas, garante que tem em mente planos para o Poial. Nomeadamente exposições
artísticas e gastronómicas, a fim de dar ao espaço o verdadeiro sentido de um
“poial à cabo-verdiana.
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